quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

As reuniões da Igreja Neo-Testamentária



“Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração,” (Atos 2.46. NVI)

Geralmente esse texto é usado para defender a idéia que a igreja primitiva fazia cultos em templos, além de reunir-se nos lares. Porém, essa passagem se refere aos cristãos de Jerusalém, a primeira igreja cristã que existiu. E Jerusalém, onde tinha um templo, era a exceção e não a regra. O Templo ali referido é o Templo de Jerusalém, o único em todo o país. A versão NVI traduz adequadamente, dizendo-nos que os irmãos se reuniam no pátio do templo, pois, dentro do templo de Jerusalém, só entravam sacerdotes e levitas judeus. Os pátios do templo eram locais públicos, abertos para os judeus. Então, o que a igreja fazia ali? A igreja do Novo Testamento, em Jerusalém, composta quase que exclusivamente de judeus convertidos, ia ao templo para: (1) evangelizar e testemunhar para os judeus; (2) reunir as igrejas (das casas) da cidade para ouvir o ensino de um apóstolo. Os cristãos primitivos em Jerusalém não iam ao templo para adorar, como fazem hoje católicos e protestantes institucionais. Isto é uma diferença relevante.

A igreja em Jerusalém (e em qualquer outra cidade mencionada no Novo Testamento) não possuía local próprio de reunião. Reunia-se em locais públicos e em seus lares. Em Jerusalém, ela se aproveitava dos grandes pátios e pórticos do Templo, para fazer grandes reuniões (lembre-se de que, somente no primeiro dia da igreja em Jerusalém, houve uma conversão de três mil pessoas). Aliás, raramente se vê no Novo Testamento as igrejas de outras cidades fazendo grandes reuniões. Atos 19.9-10 menciona Paulo ensinando na escola de Tirano durante dois anos, um local cedido à igreja de Éfeso para fins de ensino. E só. O local de reunião eram os aconchegantes lares de alguns irmãos.

Muitos argumentam que a igreja no primeiro século não se reunia em templos porque era muito pobre, por isso não os podia construir, e porque era perseguida.

Mas esta explicação é incoerente com os fatos. Os cristãos de Jerusalém vendiam suas propriedades para distribuir com os irmãos necessitados (Atos 4.34-35). Propriedades? Eles tinham propriedades? Que propriedades eram essas? O verso 34 diz que eram terras e casas... eram imóveis! Alguns irmãos ali possuíam imóveis, além das casas nas quais moravam. Não era por falta de terra nem por falta de recursos que eles não construíram templos nem auditórios no primeiro século, pois eles davam o dinheiro das vendas de seus imóveis aos apóstolos! Por que os apóstolos não pegaram o dinheiro dos irmãos e construíram um grande templo para esta igreja? Primeiro porque a prioridade era outra. Era não permitir que nenhum irmão passasse necessidade.

Hoje fico a pensar nos caros imóveis de propriedade das igrejas institucionais, católicas e evangélicas. No quanto custaram aos irmãos e o quanto custam para serem mantidos. Se fossem vendidos, daria para impedir que muitos irmãos pobres de hoje passassem fome, sede e frio.

Quanto à perseguição, no primeiro século, somente a igreja em Jerusalém foi perseguida pelos judeus, a ponto de os cristãos terem que sair da cidade. Quando se estabeleceram em outros locais, o “DNA” da igreja continuou o mesmo, ou seja, nada de gastar dinheiro com construções, enquanto irmãos de nossa família passam necessidade. Não se houve falar em templos construídos pelos cristãos em nenhuma cidade mencionada no Novo Testamento.

Outro motivo que explica porque a igreja não construía templos, é que, depois de Jesus, o Templo de Jerusalém deixou de ser o “lugar de adoração” (João 4.23-24). Agora, a adoração é “em espírito e em verdade”. Não existe mais lugar especial para adorar a Deus. O próprio Senhor mudou isto. O “Santo Templo” agora é o corpo de cada cristão (1 Cor. 6.19) e o Santo dos Santos, ou o Santíssimo (como os católicos chamam) é hoje o coração de cada irmão. É nele que habita o Espírito Santo. Construir templos é uma incoerência com a doutrina cristã. Construir templos hoje em dia é colocar o vinho novo do Evangelho de Jesus Cristo no odre velho do Judaísmo vetero-testamentário. Isso estraga os dois. Penso pessoalmente que é uma desobediência ao Senhor. É como se os cristãos de hoje dissessem “Senhor, tu dissestes claramente que agora moras em nossos corações, não nos templos, mas nós vamos continuar construindo templos de pedras porque gostamos deles. Preferimos ter templos do que ser templos. Não importa as necessidades dos irmãos. Antes, importa termos templos; e quanto mais suntuosos, melhor”

Enfim, lembremos que a palavra eklesia significa “assembléia” ou “congregação”. A igreja cristã é, portanto, um templo de pedras vivas quando os irmãos estão reunidos, pois Deus habita neles.
Os locais de reunião da igreja, na Bíblia, eram primordialmente as casas dos irmãos.

Eventualmente, os cristãos se reuniam em locais maiores, para congregar as pequenas igrejas dos lares da cidade. O modelo encontrado no Novo Testamento, o modelo bíblico, no tocante aos locais de reuniões, é o modelo orgânico das igrejas nos lares.
Marcio Rocha

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