quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Natureza ou Essência da Igreja

Quanto à natureza, as igrejas de hoje ou são institucionais ou não-institucionais (que chamaremos aqui de orgânicas).


A igreja institucional, como o próprio nome denota, é uma instituição. Descrevendo-a sinteticamente, podemos dizer que ela é uma pessoa jurídica, registrada nos órgãos estatais, composta por seus fundadores, e por outros associados, e tendo seu início marcado por meio de uma ata de fundação. Porque ela é uma instituição, possui obrigatoriamente um local fixo de reunião, ao qual chamam templo (ou inadequadamente de “igreja”). Possui um estatuto ou documento semelhante, que rege a instituição como sua lei. É bastante semelhante, em sua natureza (mas não no seu propósito), a uma organização não governamental sem fins econômicos. As pessoas entram efetivamente para a igreja institucional quando manifestam sua livre vontade e participam de seus rituais de iniciação, geralmente uma declaração pública de aceitação dos estatutos (doutrinas) da instituição e o batismo nas águas. Como ela é institucional, ela organiza um rol de membros. Além disso, possui funcionários e prestam serviços religiosos. Tem cargos, que são preenchidos por uma elite espiritual (clero), que detém certos privilégios, e o restante dos associados são tidos como cristãos comuns.

Já a igreja orgânica é mais como uma família. Entende-se a si mesma como um organismo vivo, espiritual. Não é fundada por homens, mas, como todo organismo vivo, nasce (de Deus). Não é uma pessoa jurídica. Não é uma organização (embora não seja desorganizada). A igreja orgânica é composta simplesmente de crentes que amam a Deus e resolvem caminhar juntos, compartilhando a vida, edificando-se e servindo-se mutuamente. Elas se reúnem principalmente nos lares dos seus membros. Nas igrejas orgânicas, não há estatuto; as regras são as da própria Bíblia. Não há um ritual de iniciação para que pessoas façam parte dela. Porém, para ser parte dessa família, a pessoa tem que ter nascido de novo (espiritualmente) e ter sido adotada por Deus como filho. Batismos são realizados quando um novo (ou antigo) convertido deseja se batizar. Não há um rol de membros. Nem é necessário, pois todos que são irmãos vivem juntos e se conhecem. Também como ocorre nas famílias saudáveis, as pessoas ajudam-se umas às outras nas igrejas orgânicas e não permitem que nenhum de seus membros passe necessidade.

Neste aspecto, como era a igreja do Novo Testamento (A igreja primitiva)? Era institucional ou orgânica?

Ela era registrada em algum órgão estatal (oficial)? Possuía alguma licença legal para funcionamento?

Não. Ela era muito mais como uma grande família, sem qualquer licença ou vínculo com o Estado. Na realidade, os apóstolos recomendavam que se respeitassem as autoridades mundanas e as suas leis (Rom. 13.1; Tito 3.1), naquilo que não entrassem em choque coma Palavra de Deus, mas, a igreja primitiva era um movimento não institucionalizado.

Alguém poderia aqui argumentar que naquela época não havia este tipo de registro cartorial, portanto, é inadequado comparar a igreja primitiva com a de hoje, neste aspecto.

Certamente não existiam cartórios para registro de associações ou organizações no primeiro século. Porém, será que não existiam corporações organizadas ou reconhecidas pelo império, com suas próprias regras e estatutos? Existiam sim. Essa é a opinião abalizada dos historiadores e dos eruditos do Novo Testamento. William L. Coleman, em seu livro “Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos” (p. 140), nos diz: “Nos dias de Jesus, a sociedade já era constituída de grupos rurais e urbanos.” E ainda:

“Uma sociedade urbana exigia muitos tipos de serviços, e indivíduos com todo tipo de habilidade profissional. Numa sociedade complexa, as necessidades básicas de um trabalhador eram muitas, e isso os levou a organizar corporações. Já no tempo em que Cristo viveu na terra, havia em vários lugares corporações de trabalhadores bem organizadas e bem conceituadas.”

Wayne A. Meeks, da Universidade Yale, também afirma que havia diversos tipos de corporações no primeiro século. Em seu livro “The First Urban Christians” (Os primeiros Cristãos Urbanos), ele descreve um quadro social do primeiro e do segundo séculos onde existiam diversas organizações institucionalizadas, associações formalizadas, não somente profissionais, mas também sociais.

“Bem no início, o Império Romano testemunhou um crescimento luxurioso de clubes, entidades e associações de toda sorte.” (MEEKS, Wayne. The First Urban Christians - Os primeiros Cristãos Urbanos. Londres: Yale Uinversity Press, 1983. P. 77)

Meeks afirma que nos tempos paulinos havia associações diversas, além das sinagogas judaicas e das escolas retóricas/filosóficas. Interessava ao império controlar todos os movimentos, portanto ele apoiava a formalização dessas organizações. Movimentos não institucionalizados eram muito mal vistos pelo Império Romano. Aliás, os estados modernos herdaram essa mesma atitude.

Essas citações nos mostram que, embora não existissem cartórios, existiam organizações formalizadas nos tempos da igreja primitiva. O escopo deste artigo não nos permite acrescentar outras citações, contudo, uma coisa fica certa: havia instituições no primeiro século. A igreja primitiva, portanto, era orgânica, não por falta de modelos institucionais em sua época. Ao contrário, ela era orgânica por opção, ou melhor, por natureza.

A igreja não começou com uma ata de fundação ou documento semelhante, elaborado por homens. Nasceu com um derramar do Espírito Santo nos fiéis, que estavam em oração, em uma casa (Atos 2.2). Não possuía funcionários. Sustentava os apóstolos (que eram plantadores de igrejas, missionários itinerantes), mas não empregava nenhum funcionário local. Era uma família de irmãos e irmãs, cujo pai era o Senhor Jesus.

“Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias, continuavam a se reunir no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.” (Atos 2.42-47. NVI)

Não é esta acima a descrição de uma típica família?

Assim, a igreja do Novo Testamento, a igreja bíblica, era orgânica. O modelo bíblico era não-institucional. A igreja institucional não é um modelo bíblico. Ela pode ser uma boa organização, possuir uma boa estrutura, muitas outras qualidades, mas, quanto à sua natureza, este modelo não se encontra na Bíblia. Não é bíblico.

A história nos mostra que a igreja cristã começou a se tornar institucional a partir do Imperador Constantino (313 d.C.), o qual não oficializou o Cristianismo como religião de Roma (quem o fez foi Teodósio, o imperador seguinte, em cerca de 360 d.C.), mas, Constantino cessou a perseguição aos cristãos e os apoiou financeiramente, inclusive construindo os seus primeiros templos de tijolos. Aí começou a grande decadência da igreja. Os interesses de Constantino e Teodósio na igreja cristã não eram nada “cristãos”. Eram políticos, imperiais, movidos pela sede de poder e controle. Constantino só foi batizado em seu leito de morte, pois levava uma vida de luxuria e imoralidade. Os imperadores passaram a controlar os cargos de liderança das igrejas, o que levou na idade média a igreja a até conceder esses cargos mediante pagamento em dinheiro ou em troca de outras riquezas.

O modelo encontrado no Novo Testamento, o modelo bíblico de igreja, no tocante à natureza da igreja, é o modelo orgânico das igrejas nos lares.

Marcio Rocha

6 comentários:

  1. Compreendo sua opinião. Mas acredito que os cultos não eram aleatórios, havia uma ordem sim, mesmo não sendo engessado, como diz. Muitos participavam da palavra e louvores mas nem todos, muitos preferiam cultuar a Deus e somente ouvir os ensinos e a Palavra nas reuniões, isso é muito natural no convívio social. Acredito que os cultos eram iniciados por algum líder natural ou Diácono, ou Presbíteros ou Apóstolo. Havia autoridade apostólica sim sobre o corpo de Cristo sim, e muitas decisões foram tomadas pelos apóstolos, presbíteros e diáconos. Quanto a Igreja se reunir nos lares, isso ocorria naturalmente, mas não acredito que isso era uma coisa que teria que ser assim. Hoje em dia é complicado reunir a Igreja nos lares. Muita gente não quer. O senhor quer reunir a Igreja em sua casa? Eu particularmente prefiro e todos os irmão são unânimes com a ideia de compra ou aluguel de um espaço que ofereça um mínimo de conforto, principalmente pensando em nossas crianças e idosos. Eu acredito que no inicio da igreja, se algum irmão oferecesse um galpão para a igreja se reunir ninguém ia dizer: "não aceitamos", "tem que ser nos lares", ainda mais para reunir e comportar 120 pessoas como no dia de pentecostes. ESSA VISÃO É MUITO RADICAL.

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  2. Eu acredito que a Igreja possa sim se reunir nos lares, desde que todos concordem e haja espaço suficiente para comportar. Havia isso na Igreja Primitiva? Sim. Mas foi criada uma doutrina pelos Apóstolos que tem que ser assim? Digo com grandes letras: NÃO. Então não é razoável criticarmos os irmãos que não se reúnem em lares. Todos somos Igreja, independente do local onde nos reunirmos. O mais importante nisso é observarmos o que Jesus falou: "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.

    Mateus 18:20.
    Seja em galpões , seja nos lares, seja em teatros, seja em auditório, a promessa de Jesus ainda está de pé.
    TODOS QUE PROFESSAMOS O SEU NOME SOMOS IGREJA DE JESUS, SEM DISTINÇÃO.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. A igreja de hj é mais uma sociedade de elite mundana que querem servi a Deus, mas nao conhece a verdadeira igreja que é organica. Participativa.

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  5. Marcio Rocha, meu nome é Igor,você tem instagran?

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  6. Olá Márcio, meu nome é Eduardo, o que postou é simplesmente maravilhoso, muito obrigado. Gostaria de falar contigo, deixe um contato. Faço em minha casa, exatamente como escreveu, mas gostaria de conhecer melhor como pensam. Aguardo.

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